Neste texto vamos destrinchar a poética cabralina. Analisar o texto de João Cabral na óptica de Erza Pound: imagem, melodia, e conceito, e em O Ferrageiro de Carmona identificar as características do autor.
Cabral estabelece em seu texto uma conexão quando fala da mão e da forma, do ferro fundido e do ferro forjado, do ferrageiro e do poeta, do ferro e da palavra. Utilizando a metalingüística o poeta faz uma analogia e expõe como é para ele fazer poesia.
Para Cabral a poesia é uma quebra-de-braço, deve haver um ‘corpo a corpo’, o autor deve debruçar-se sobre a criação e diante das idéias vomitadas iniciar o trabalho artesanal, forjado, feito à mão. Sem esse processo não há poesia, não há esforço e isso se torna perceptível no texto.
A narrativa de O Ferrageiro de Carmona é primeiramente melódica, os versos têm um ritmo marcado. A fanopéia encontra-se mais discreta, mas mesmo assim nos remete a imagem de criação, produção artesanal. Toda essa construção nos mostra a perfeita ligação criada por Cabral entre a profissão do ferrageiro e a profissão do poeta.
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O Ferrageiro de Carmona
Um ferrageiro de Carmona
Que me informava de um balcão:
"Aquilo? É de ferro fundido,
foi a forma que fez não a mão.
Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro;
então corpo a corpo com ele;
domo-o, dobro-o, até onde quero.
O ferro fundido é sem luta,
É só derramá-lo na fôrma.
Não há nele a queda de braço
e o cara a cara de uma forja.
Existe grande diferença
do ferro forjado ao fundido;
é uma distância tão enorme
que não pode-se medir a gritos.
Conhece a Giralda em Sevilha?
De certo subiu lá em cima.
Reparou nas flores de ferro
Dos quatro jarros das esquinas?
Pois aquilo é ferro forjado.
Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de fôrma
Moldadas pelas das campinas.
Dou-lhe aqui a humilde receita
Ao senhor que dizem ser poeta:
O ferro não deve fundir-se
Nem a voz ter diarréia.
Forjar: domar o ferro a força,
Não até uma flor já sabida,
Mas ao que pode até ser flor
Se flor parece a quem o diga."
João Cabral de Mello Neto
IMAGEM: http://ieqindustrialcontagem.zip.net/images/Ferreiro.jpg
Cabral estabelece em seu texto uma conexão quando fala da mão e da forma, do ferro fundido e do ferro forjado, do ferrageiro e do poeta, do ferro e da palavra. Utilizando a metalingüística o poeta faz uma analogia e expõe como é para ele fazer poesia.
Para Cabral a poesia é uma quebra-de-braço, deve haver um ‘corpo a corpo’, o autor deve debruçar-se sobre a criação e diante das idéias vomitadas iniciar o trabalho artesanal, forjado, feito à mão. Sem esse processo não há poesia, não há esforço e isso se torna perceptível no texto.
A narrativa de O Ferrageiro de Carmona é primeiramente melódica, os versos têm um ritmo marcado. A fanopéia encontra-se mais discreta, mas mesmo assim nos remete a imagem de criação, produção artesanal. Toda essa construção nos mostra a perfeita ligação criada por Cabral entre a profissão do ferrageiro e a profissão do poeta.
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O Ferrageiro de Carmona
Um ferrageiro de Carmona
Que me informava de um balcão:
"Aquilo? É de ferro fundido,
foi a forma que fez não a mão.
Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro;
então corpo a corpo com ele;
domo-o, dobro-o, até onde quero.
O ferro fundido é sem luta,
É só derramá-lo na fôrma.
Não há nele a queda de braço
e o cara a cara de uma forja.
Existe grande diferença
do ferro forjado ao fundido;
é uma distância tão enorme
que não pode-se medir a gritos.
Conhece a Giralda em Sevilha?
De certo subiu lá em cima.
Reparou nas flores de ferro
Dos quatro jarros das esquinas?
Pois aquilo é ferro forjado.
Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de fôrma
Moldadas pelas das campinas.
Dou-lhe aqui a humilde receita
Ao senhor que dizem ser poeta:
O ferro não deve fundir-se
Nem a voz ter diarréia.
Forjar: domar o ferro a força,
Não até uma flor já sabida,
Mas ao que pode até ser flor
Se flor parece a quem o diga."
João Cabral de Mello Neto
IMAGEM: http://ieqindustrialcontagem.zip.net/images/Ferreiro.jpg
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