domingo, 15 de agosto de 2010

Capitães da Areia, Jorge Amado

Sem duvida diversos comentários, análises e reflexões já foram feitas sobre o texto Capitães da Areia, esse romance de Jorge Amado é como um novo mundo, dá margens para diversos outros textos. Minha intenção não é de forma nenhuma analisar o texto, mas falar de minha experiência pessoal com os meninos dessa Bahia.



Além da visível denúncia sobre a vida de crianças crescidas nas ruas, não que esse fato estivesse escondido, vejo Capitães da Areia como uma porta para o mundo interior da humanidade. Cada um tem dentro de si um moleque que possui dores e moléstias, medos e alegrias simples.

Procuramos, assim como Pirulito nos seus quadros de santos ou João Grande nos atabaques, o consolo divino. Por vezes nossa carência não vem da falta da família, mas por sua omissão, violência ou excesso de proteção. Somos como crianças soltas no mundo. As ruas da Bahia da história são substituídas pelas ruas da vida real. As aventuras, lutas, carrosséis, tem outras características. Mas sinto como que se o mundo fosse essa Bahia de Jorge Amado, assim como os Capitães, somos moleques a brincar com a malicia do mundo. Ele ancião e maldoso nos bate, nos faz tropeçar... Mas o homem é dotado de inteligência e vai aprendendo onde pisar.

Como na vida real, na história dos meninos da Bahia também há contradições, naquele grupo de moleques arruaceiros havia ordem. “As leis nunca tinham sido escritas, mas existiam na consciência de cada um deles”. Havia um sentimento de irmandade que os impulsionava a proteger uns aos outros. Na nossa vida real, ainda não aprendemos essas leis nos escritórios, escolas e famílias.

Então como julgar alguém por seus erros ou sua origem? Quem exige uma moral daquele que conheceu o lado excluído da sociedade? As diferenças no texto são gritantes, mas seus nuances estão ao nosso lado. A pobreza disfarçada do nosso vizinho, a violência recalcada de um amigo, a indiferença com os moradores de rua... E como “socializar” a todos?

A premissa é simples: “A liberdade é como o sol. É o bem maior do mundo”. Acredito que é isso que um homem deve ter para conhecer o que é bom: liberdade! Talvez por isso reformatórios e similares não funcionam.

Levanto-me, mesmo com vozes gritando o contrário, para reafirmar que acredito que a essência do homem é boa. È visível a sua inclinação para o mal, mas a exemplo dos Capitães da Areia, o mal é escolhido quando não há opção ou quando não se soube escolher. Não vejo o homem como criatura totalmente inocente, somos livres! Mas, não há duvidas, que a ignorância é nossa maior inimiga. Não acreditemos nos mocinhos sem máculas, os heróis são os que lutam e por lutarem erram. “Os homens assim são os que têm uma estrela no lugar do coração. E quando morrem o coração fica no céu...”

P.S. Em setembro/2010, dirigido por Cecília Amado, será lançado no país o longa metragem Capitães da Areia.

IMAGEM: http://www.diarioliberdade.org/archivos/imagenes/Capitaes_da_areia.jpg

4 comentários:

  1. Sempre gostei de ler seus textos, por este comentário estava mais ansioso.
    Não precisei ler Jorge Amado para saber que sua literatura gira em torno da ditadura do relativismo. Eu não quis ler, minha liberdade esteve na confiança que depositei em homens bons que podem ver alem do que eu posso ver.
    Sempre pensei que a ignorância é um grande mal. Mas o Senhor tem colocado diante de mim, uma maldade ainda maior, a soberba intelectual.
    O grande dom da inteligência, essencialmente espiritual, pois é potência da alma, tendo como conseqüência direta a liberdade, nos assemelha a Deus.. nos faz imagem do Deus Livre no Amor!
    Mas o mau não é o dom em si mesmo, sempre disse que pensar é humano. Mau é o pecado que é o mesmo do nosso primeiro pai... a forte tentação volta a expulsar o homem do paraíso, é a voz demoníaca que oferece aquele "Sereis como Deus", e retira do homem sua segurança e conforto oferecido pelo nosso Pai Deus.
    De cooperadores da Obra do Criador, assumimos a cena, agigantamos nosso pensamento e abarcando a realidade inteira, como se fosse possível, questionamos a moral, a ordem, a providência e arquitetamos novos parâmetros, negando a verdade escrita no coração humano ou relativizando sua imposição.
    Não sou eu que julgo, quanto à moral é o Senhor, e para que não houvesse dúvida disse “Eu sou a Verdade”, quanto a socialização dos bens terrenos nem o Senhor, podendo, não quis ser juiz dessa causa.. “Senhor, diz ao meu irmão que faça justiça na divisão da herança? e Ele responde: Quem me fez juiz dessas coisas?”...
    Por mais aparentemente dura que pareça a realidade, não se pode melhorar a sociedade relativizando o bem, mas difundindo a Caridade, que só existe na Verdade.
    A premissa é simples: A liberdade é como a Luz. É o bem maior do mundo. Acredito que é isso que o homem tem que ter para conhecer o que é bom! Luz. E essa Luz é Jesus. Talvez seja por isso que reformatórios, a Bahia do mundo todo, ou Jorge Amado não funcionam.
    Para se entender o mundo é preciso olhar para o seu Criador, que perdoa, sustenta, protege, preenche, acompanha e se entrega aos homens para premiá-los após o calvário do mundo com o Céu, para sempre... para todo o sempre!

    ResponderExcluir
  2. Suas palavras são muito bem doutrinadas meu querido... Quem dera se todos os meninos da Bahia, ou melhor, do Brasil, tivessem estado na escola moral que você esteve. Mas infelizmente não estiveram, você como evangelizador deve saber muito bem que a dificuldade maior não é dizer que Jesus é o caminho e que só o Bem salva, mas sim, chegar aqueles que precisam ouvir isso... E aposto que existem muitos guetos pelo país, com inúmeras crianças de rua, que não receberam a visita de catequese alguma.

    Quanto a “soberba intelectual” ao qual você se refere muito me admira, já que aprendi com grandes santos, como Santo Agostinho e São Tomas de Aquino, que também se chega a Deus pelo intelecto. Acredito que o problema não é se debruçar para pensar e sim qual a intenção dessa reflexão, onde se deseja chegar...

    Verdade! A inteligência é um dom, potência da alma, portanto algo espiritual, mas não se esqueça Icaro, ainda estamos falando de seres humanos, passiveis do erro e se me permite falar, inúmeras vezes só aprende errando. Justamente por isso o diálogo livre e pacífico é tão importante, permite esclarecimentos. E para que isso seja possível é necessário tolerância, a soberba de qualquer parte que seja limita o crescimento, é necessário criar pontes e não muros protegendo as nossas verdades... Elas não são fortes o suficiente? Então...

    Com relação à “ditadura do relativismo”, não posso falar por Jorge Amado, mas eu acredito em Misericórdia, em tolerância... E a religião ao qual eu acredito não está presa em palavras, não é fundamentalista a ponto de obrigar as mulheres à não cortarem seus cabelos, ou a usarem saias. Sem querer criticar quem quer que seja, eu creio que somente Deus vê o coração, me admira a falsa humildade dos que dizem que não querem julgar depois que o julgamento já aconteceu.

    Por fim, concordo com você, é necessário difundir a Caridade, que só existe na verdade. Só peço que respeite a limitação do próximo, diga a verdade sem macular a liberdade do outro, ai está a dificuldade meu amigo, Jesus convida, Ele não leva a força. A sua sedução é justamente sentar-se com os impuros, porque o “médico veio para os doentes”. Também os que se intitulam ‘cooperadores da Obra do Criador’, devem descer de suas tamancas para chegarem aos miseráveis, olhar em seus olhos e separar o pecador de seu pecado...

    Sempre bom conversar com você... Abraço!


    P.S. amplie seu conhecimento sobre a palavra ignorância, ela não se refere somente à falta de instrução, mas também a falta de sabedoria... O que é diferente, já que a sabedoria é algo que se aprende no cotidiano, no exercício do bem, não está ligada necessariamente ao intelectualismo.

    ResponderExcluir
  3. Oláaa!!
    A fantástica aventura de todos os dias de aprender a amar e compreender é crescimento!
    Agradeço a atenção e a bela resposta! Quanto a soberba intelectual gostaria de esclarecer o que disse, pois falamos de coisas diferentes, a reflexão que você aprendeu e propôs não tem haver com o que critiquei. De certa forma você propôs medir a honestidade da reflexão relacionando-a com o fim proposto, eu critiquei de forma dura a posição de partida para a reflexão. Pensar e refletir sobre as Verdades que excedem a ordem natural sempre será humano e bom desde que, insisto não “assumimos a cena, agigantado nosso pensamento e abarcando a realidade inteira, como se fosse possível, questionando a moral, a ordem, a providência e arquitetando novos parâmetros, negando a verdade escrita no coração humano ou relativizando sua imposição”.
    A falta de clareza, a relativização da maldade do pecado não é misericórdia, mas desorientação. Cuidemos para assumir a responsabilidade de que os que cruzem nosso caminho participem da escola moral que partilhamos, caminho de felicidade que orienta, julga mas acima de tudo perdoa.
    Quanto à tolerância religiosa, quero sinalizar outro ponto com relação à reflexão sobre seus valores... há o risco de tanto se pensar em seus valores e verdades que pouco a pouco se torna coisa do tipo filosofia de vida. A religião católica não é um bom conjunto de regras e valores ou filosofia de vida da qual posso ficar com a parte que mais me agrada. Ser católico é ser cristão, que não está “presa a palavras” porque Cristo é o “Verbo que se fez carne, e habitou entre nós”. Não se ama normas, mas a pessoa de Jesus, e não se compreende conhecê-lo por reflexão já que Vive. A realidade e verdade do Outro, se aprende na convivência por meio da amizade.
    Grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Meu amigo, um texto explicado é sempre um texto melhor compreendido e a vantagem do dialogo é justamente gerar uma visão mais completa, pegando emprestado a luneta do outro. Suas palavras sem dúvida foram entendidas pela minha razão e eu concordo com muitas delas. Porem vejo você se rebelando com algo muito intimo de cada pessoa, quando diz: “assumimos a cena, agigantando nosso pensamento e abarcando a realidade inteira, como se fosse possível, questionando a moral, a ordem, a providência e arquitetando novos parâmetros, negando a verdade escrita no coração humano ou relativizando sua imposição”. Esqueceu de Santo Agostinho? Quantas respostas ele buscou em fontes estéreis? O quero dizer não é para que você desista de expor verdades, mas para que tenha PACIÊNCIA! Até porque, muitos passarão por aqui desacreditados em de tudo o que vocês citou acima. E os fatos nos são ocultos, cada um tem um passado, uma construção de ser humano... Que lhe formou opiniões sobre moral, sobre a realidade e até mesmo sobre Deus.

    Quanto à “relativização da maldade”, tenho tanto medo dela quanto da “teorização do bem”. A primeira é permissiva, quanto à segunda não é real, é conto de fadas... Lembra daquela música: “Não existe o amor, Apenas provas de amor”? Acho muito parecida com “A fé sem obras é morta”... Não se acaba com o relativismo teorizando o bem, mas agindo de forma boa... O testemunho arrasta, você já deve ter ouvido isso...

    Em relação ao seu último parágrafo, concordo e toda essa argumentação que você desenvolveu de que ser católico e não amar normas, acredito que se resume em SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO, justamente por amarmos o Cristo é que quando agimos mal podemos pedir perdão. Só algo pareceu deslocado em tudo isso... Quando diz, referente a nossa relação com Jesus: “e não se compreende conhecê-lo por reflexão já que Vive”. Como assim? Vai jogar todos os livros da Quadrante fora? Hehe.

    Descordo, porque amo meus amigos, amo meus pais, vivo com todos eles e não é por isso que não há reflexão sobre nossa relação, sobre quem somos um para o outro...

    Frutuosa nossa conversa.... Aguardo outras oportunidades!

    ResponderExcluir

Vai comentar?

Escreva algo construtivo, mostre que tem o que contribuir!
Se possível cite referências.

Reclamações, dúvidas ou sugestões também são bem vindas...

Agradeço a colaboração