terça-feira, 14 de setembro de 2010

A leitura

Diante do prazer de ler os livros podemos destacar logo de principio que o verbo mais apropriado para conectar o sujeito leitor às páginas de um livro qualquer não pode ser menor do que atravessar, perseguir, investir-se numa jornada. Atravessa-se um livro, página por página, pensamento por pensamento, com a arguta certeza de que se chegará ao outro lado do rio. O simples ato de abrir um livro, portanto, é o primeiro passo para a descoberta que se quer fazer do lado oposto ao que se estar. Dentro do barco, navegamos por versos que condensam emoções, sonhos, fantasias, conhecimentos, anseios, inquietações, reinvidicações e a vastidão do mundo guardada (embora não encerrada) na palavra escrita.

Mas não começamos a ler quando somos alfabetizados. Não. A nossa primeira leitura se dá na infância, entre galhos da arvore que a criança se dependura ela enxerga a possibilidade de se sustentar em algo imóvel. As folhas que se balançam lentamente trazem à tona a vontade de entender o porquê que essas arvores balançam; lêem-se o vento, descobrem-se a chance de ler até as coisas menos enxergáveis mas que movimentam as sementes da leitura.

Aos poucos, juntando sentidos, unindo percepções, formam-se as primeiras impressões do mundo. A primeira leitura, e talvez a mais caudalosa, são as nossas ações na meninice e as reflexões que fazemos delas.

Entra-se, ainda na infância, no mundo misterioso das palavras. Esses elementos vão condensando em si o significado que já se desbravou na leitura anterior de mundo, que, aliás, é contínua e vasa até a velhice, quando se (re)descobre coisas antes pensadas indesvendáveis.

Cabe a leitura suportar a complexidade do mundo, e fazê-lo, esforçadamente, tornar-se miúdo, pequeno, numa palavra com cinco letras. E é dessa forma que devemos perceber a leitura e sua importância. Ler bons livros, os clássicos, os atuais, revistas e jornais não são suficientes. É preciso ler o mundo, sem apegos as leituras antigas mas se valendo delas ao mesmo tempo. Costumo dizer que cada vez que olhamos o mundo, se o fizermos com cautela, perceberemos uma diferença enorme a da última visualizada. Nesse ínterim, para tanto, é preciso se desvencilhar dos preconceitos que a leitura distorcida ou leviana nos provoca. E não há quem não distorça a leitura. Afinal precisamos de nossas referências para que determinadas páginas nos atinja. Nesse aspecto que podemos entender que ao se ler determinado autor, estará, todavia, lendo vários autores mergulhados e conservados dentro dele.

Ao se atravessar as obras de Machado de Assis, por exemplo, notar-se-á, vividamente a intertextualidade e o diálogo constante com Kafka. Não se pode lembrar-se dos olhos de cigana obliqua e dissimulada sem, de antemão, ter conhecido uma cigana, tê-la observado os olhos repuxados, desviados, como se enxergasse tudo com sua altivez. Por isso, ao lermos uma página qualquer teremos que ter em mente o aviso de que diversas vozes estarão intercaladas dentro daquele molho de parágrafos. É de grata importância que o leitor não esteja desatento nem temeroso para ser, ao contrário do que se pensa, lido e absorvido pelo livro. Porque o momento da leitura nos provoca essa sensação. Não abrir mão dela é zelar pela leitura.



Bruno Silva

Sou o nada. O vicio. O adjetivo mal posto. O nó na garganta. O sujeito mal exposto. Estudante de Direito e aspirante a jornalista.

bsproducao.blogspot.com

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