Quando vi a luz do monitor se apagando, a primeira coisa que havia pensado era a de soltar um palavrão daqueles de cuspir a raiva toda para o ar. Mas, logo, um desânimo freou meus movimentos labiais, direcionando-os a emitir apenas um suspiro. Olhei em volta do meu quarto. Havia faltado luz. Logo naquele dia em que eu estava colocando novas fotos no Orkut?
Chovia lá fora. Ainda sim, havia claridade o suficiente para iluminar o quarto. Porém, não poderia sair com aquela tempestade. Estava sozinho em casa. Nem o telefone sem fio funcionava. O meu celular estava descarregado, e para ajudar, sem créditos. Estava, de repente, sem nada para fazer. Senti um tenebroso silêncio, quebrado apenas pelas gotas de chuva. Mais nada.
Sai do quarto e fui caminhando pela casa, angustiado. Não sabia para onde estava indo. Para a cozinha, talvez, comer alguma coisa. Cheguei até a geladeira. Estava toda escura por dentro. Ao pegar um prato com uma fatia de bolo, resolvi colocá-lo de volta no lugar. Algo me fez dispensar a fome, provocada pelo ócio forçado. Voltei para a copa, fuçando nas gavetas da cômoda alguma coisa que pudesse me entreter. Não encontrara nada de interessante.
Por um momento, reparei que aquela copa estava diferente. Tinham mudado algumas coisas de lugar. Flores, bibelôs, quadros, fotografias... Tinha uma foto minha de pequeno, antiga, de quando tinha cabelo grande. Como o tempo passou... E aquele bibelô de urso rosa? Desde que me entendo por gente ele está ali. Alguns objetos já estavam velhos, empoeirados, desbotados. Nunca tinha percebido o estado deles. Aliás, nunca tinha percebido a que estado havia chegado eles.
Dei uma volta nos quartos. O do meu irmão, bagunçado, cheio de revistas e cadernos, além de seus tênis esparramados pelo piso. O do meu outro irmão, mais organizado, estava sem aquela cômoda minúscula. Onde ela estava? Faz tempo que a tirou? Ele morria de ciúmes dela. E no quarto dos meus pais, a cama mogno já mostrava idade, com alguns arranhões na cabeceira de tanto que fora mudada de lugar. Não haviam comprado a cama num dia desses? Não, havia me lembrado, já fazia seis anos. Eu ainda estava na quarta série...
Vistos os quartos, voltei para o corredor. A minha angústia naquele vazio não parava. O que iria fazer agora? No que iria pensar agora? Engraçado como é o tempo. Vivia me queixando da falta dele, para lidar com os amigos, ver os vídeos no celular que me passavam por bluetooth, ver e responder os emails, atualizar meu Orkut, baixar músicas, etc, e agora, me via parado, estático, perdido, com um tempo enorme pela frente, mas sem nada para fazer, no vácuo...
E, já bem desanimado, resolvi voltar para a sala, me jogar no sofá, e ficar de cara para cima, esperando a luz chegar... ou o sono chegar, quem viesse primeiro.
Estiquei as pernas. Fiquei olhando perdidamente para o teto. Fiquei pensando em como ficara dependente dessas novas tecnologias, com esses vários gigas de espaço, interfaces gráficas perfeitas, ferramentas fantásticas, facilidades e praticidades incríveis. Mas bastava faltar luz... e toda essa tecnologia se fazia nula, desnecessária, impraticável, me deixando na mão, perdido. Realmente, o ser humano de hoje tem um péssimo mal de se acomodar demais com a tecnologia e as facilidades que o cerca, esquecendo-se de que vivemos milênios sem elas, que quase todas elas são movidas a eletricidade e baterias, que uma hora podem acabar.
Vivemos numa sociedade de sistemas, e quando eles caem, pessoas como eu ficam aflitas, não percebendo talvez, como é bom ficar um pouco no silêncio, na reflexão... Mal acostumados... e eu sou um exemplo disso...
E cerca de meia hora depois, a luz não chegou. Continuei perdido nos meus pensamentos, até que, aos poucos, o sono havia chegado. Dormi cinco minutos depois, sentindo uma leve paz por dentro...
Talvez, por ter me dado conta de que estava com os pés um pouco mais próximos do chão... e o tempo, um pouco mais próximo do meu domínio... e a mente, um pouco mais próxima do meu controle...
Quem sabe, poderia faltar luz mais algumas vezes...
Chovia lá fora. Ainda sim, havia claridade o suficiente para iluminar o quarto. Porém, não poderia sair com aquela tempestade. Estava sozinho em casa. Nem o telefone sem fio funcionava. O meu celular estava descarregado, e para ajudar, sem créditos. Estava, de repente, sem nada para fazer. Senti um tenebroso silêncio, quebrado apenas pelas gotas de chuva. Mais nada.
Sai do quarto e fui caminhando pela casa, angustiado. Não sabia para onde estava indo. Para a cozinha, talvez, comer alguma coisa. Cheguei até a geladeira. Estava toda escura por dentro. Ao pegar um prato com uma fatia de bolo, resolvi colocá-lo de volta no lugar. Algo me fez dispensar a fome, provocada pelo ócio forçado. Voltei para a copa, fuçando nas gavetas da cômoda alguma coisa que pudesse me entreter. Não encontrara nada de interessante.
Por um momento, reparei que aquela copa estava diferente. Tinham mudado algumas coisas de lugar. Flores, bibelôs, quadros, fotografias... Tinha uma foto minha de pequeno, antiga, de quando tinha cabelo grande. Como o tempo passou... E aquele bibelô de urso rosa? Desde que me entendo por gente ele está ali. Alguns objetos já estavam velhos, empoeirados, desbotados. Nunca tinha percebido o estado deles. Aliás, nunca tinha percebido a que estado havia chegado eles.
Dei uma volta nos quartos. O do meu irmão, bagunçado, cheio de revistas e cadernos, além de seus tênis esparramados pelo piso. O do meu outro irmão, mais organizado, estava sem aquela cômoda minúscula. Onde ela estava? Faz tempo que a tirou? Ele morria de ciúmes dela. E no quarto dos meus pais, a cama mogno já mostrava idade, com alguns arranhões na cabeceira de tanto que fora mudada de lugar. Não haviam comprado a cama num dia desses? Não, havia me lembrado, já fazia seis anos. Eu ainda estava na quarta série...
Vistos os quartos, voltei para o corredor. A minha angústia naquele vazio não parava. O que iria fazer agora? No que iria pensar agora? Engraçado como é o tempo. Vivia me queixando da falta dele, para lidar com os amigos, ver os vídeos no celular que me passavam por bluetooth, ver e responder os emails, atualizar meu Orkut, baixar músicas, etc, e agora, me via parado, estático, perdido, com um tempo enorme pela frente, mas sem nada para fazer, no vácuo...
E, já bem desanimado, resolvi voltar para a sala, me jogar no sofá, e ficar de cara para cima, esperando a luz chegar... ou o sono chegar, quem viesse primeiro.
Estiquei as pernas. Fiquei olhando perdidamente para o teto. Fiquei pensando em como ficara dependente dessas novas tecnologias, com esses vários gigas de espaço, interfaces gráficas perfeitas, ferramentas fantásticas, facilidades e praticidades incríveis. Mas bastava faltar luz... e toda essa tecnologia se fazia nula, desnecessária, impraticável, me deixando na mão, perdido. Realmente, o ser humano de hoje tem um péssimo mal de se acomodar demais com a tecnologia e as facilidades que o cerca, esquecendo-se de que vivemos milênios sem elas, que quase todas elas são movidas a eletricidade e baterias, que uma hora podem acabar.
Vivemos numa sociedade de sistemas, e quando eles caem, pessoas como eu ficam aflitas, não percebendo talvez, como é bom ficar um pouco no silêncio, na reflexão... Mal acostumados... e eu sou um exemplo disso...
E cerca de meia hora depois, a luz não chegou. Continuei perdido nos meus pensamentos, até que, aos poucos, o sono havia chegado. Dormi cinco minutos depois, sentindo uma leve paz por dentro...
Talvez, por ter me dado conta de que estava com os pés um pouco mais próximos do chão... e o tempo, um pouco mais próximo do meu domínio... e a mente, um pouco mais próxima do meu controle...
Quem sabe, poderia faltar luz mais algumas vezes...
Danilo Moreira
Por ele mesmo: "24 anos, estudante de Relações Públicas, amante fiel e incondicional da arte de escrever, sou capaz de viver as quatro estações num só dia. Caminho com meus objetivos na mente, mas com certas bagagens pesadas nas costas que as vezes doem - nada que atrapalhe o meu desejo de sempre respirar novos ares, e de mostrar ao mundo o melhor que posso oferecer."
Olha o BLOG do garoto: blogpontotres.blogspot.comPor ele mesmo: "24 anos, estudante de Relações Públicas, amante fiel e incondicional da arte de escrever, sou capaz de viver as quatro estações num só dia. Caminho com meus objetivos na mente, mas com certas bagagens pesadas nas costas que as vezes doem - nada que atrapalhe o meu desejo de sempre respirar novos ares, e de mostrar ao mundo o melhor que posso oferecer."
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